Churrasco na Itália, eu e Isabella Rossellini


O nonsense é fascinante.
Há pouco recebi uma ligação de Isabella Rosselini. É, ela mesmo, a Bela.
Ceguinho? Sim, ele. Sou eu, Isa, amore mio! Tô morrendo de saudades e de desejo de comer uma alcatra suculenta, igual àquela que cê fez em Búzios, naquele final de semana que passamos juntos, lembra?
Não lembrei. Nem poderia.
Adorada Isabela, jamais esqueceria o final de semana que passamos juntos. Só que foi na Grécia, nas areias de Míkonos, quando demos uma escapada do iate do Onassis. Em Búzios, foi para a Bardot que fiz o churrasco. Tem razão, amore mio, perdão. Acho que ando lendo demais a Caras...
Também estou com saudades de você, Isa. E intrigado com a inconcebível perfeição do seu Português coloquial. Brigadim, amore, sou esforçada. E abusada, rebati, provocador. Quem está botando as palavras na minha boca é você, querido.
Mulheres inteligentes combinam com masoquistas confessos.
Quando você chega, Isabela? Adoro quando você me chama assim, Isabela. Quando, Isabela? Não chego, você é que vem. Para a Itália? Roma, precisamente. Agora? Amore, já estou no aeroporto te esperando. Ciao.
Antes de tentar solucionar, com alguma verossimilhança, sem o auxílio dos espíritos, as impossibilidades lógicas emprestadas à narrativa pelas duas últimas frases acima, porque o leitor não é burro, já estava deslizando pela esteira reservada do aeroporto internacional romano, rumo à área hiper-vip, onde ela, a Bela, ansiosa e discretamente arfante, me aguardava. (rapidez é isso aí!)
De braços dados, começamos a percorrer Roma a pé, à procura de açougues, para comprar scamone, alcatra em italiano, escolhida por mim, como pediu.
No primeiro não tinha. Nem no segundo. No terceiro, nunca tinham ouvido falar. No quarto, muito menos. No vigésimo e lá vai fumaça, também não tinha, e a noite fresca, outonal, já tinha caído em Roma.
Meus calos sempre foram hostis. Na verdade, chantagistas profissionais. Latejantes, deram-me um ultimato de ordem filosófico-consumerista: ou eu repensava o servilismo patético que dedico às mulheres ou comprasse sapatos italianos, caríssimos.
Solução diplomática: entrar numa trattoria, sentar e, obviamente, também aplacar a fome e a sede.
Jamais compreenderei meu país, Ceguinho. Como, nesta cidade com tantos açougues, não existe alcatra? Não me conformo. Tanto sacrifício para trazê-lo até mim, amore mio, tanta expectativa.
Nada mais pungente para um canalha que uma linda italiana desolada.
Mais vinho?
É o só o que me resta, amore mio.
Não, amada Isabela, a noite ainda é uma criança, disse, já sob os perigosos eflúvios de Baco. Para arrematar, botei o melhor olhar-de-peixe-morto, tipo canalha apaixonado, e disse:
Podemos fazer muitas coisas ainda, caríssima.
Tem razão, Ceguinho, principalmente explicar aos leitores porque comprar carne na Itália é um martírio. Já para o Brasil...
Eu vim, né?
Comprar carnes na Itália é um martírio. Só a alcatra possui 23 denominações diferentes.
Veja só:
Cima: Venezia.
Codata: Messina, Reggio Calabria.
Colarda: Bari, Foggia, Napoli, Potenza.
Culaccio: L'Aquila, Trento.
Culata: Perugia.
Culatello: Parma.
Fetta: Bologna.
Fracoscio: Macerata.
Groppa: Firenze.
Mela: Firenze.
Melino: Firenze.
Pezza: Roma.
Pezzo: Perugia.
Precione: Padova.
Punta e cassa dei belìn: Genova.
Scagnello: Belluno.
Scamone: Milano, Verona.
Scannello: Mantova, Rovigo.
Sotto codata: Palermo.
Sottofiletto: Belluno, Padova, Treviso.
Sottofiletto spesso: Torino.
Straculo: Mantova, Trento, Venezia, Vicenza.
Taglio di nombolo: Venezia.
Se você quiser conhecer mais sobre o nome cortes de carnes bovinas na Itália, vá à uma fonte confiável: o site La carne senza segreti, aqui.
Em tempo, o flagrante acima foi feito na trattoria que estive com Isabela. Não fotografei nossos pratos por uma questão de privacidade. Dela também, para preservá-la. Já é fotografada demais. E como tudo aqui tá meio maluco, nada melhor uma que uma foto do legítimo churrasco italiano para ilustrar este post.

5 comentários:

Anônimo disse...

Clap clap clap!
Ceguinho, você voltou com tudo, que delícia de história!
;***

Anônimo disse...

Que saudades!!!
Adoro seus textos e este está genial!
Manda um beijo para a Isa!
Beijos procê!

www.mangiachetefabene.wordpress.com

Louis Alien disse...

que beleza heim?
bom, adicionei você nos meus links.
há braços!

Anônimo disse...

ceguinho, é o rodrigo, vc fez churrasco pra mim aqui na gávea! hahaha resolvi dar uma passada no blog, mto maneiro!
valeu, parabens pelo blog e pelo seu churrasco.. pode deixar que da proxima vez te chamo com certeza! abraçoo

LUIZ ANTONIO DE MELO ALBUQUERQUE disse...

Para a Isabella até eu faço pizza. E em forno de lenha também! Rsrsrsr!