"Viver não é necessário. Necessário é criar."

Essa angustiante verdade de Fernando Pessoa é refletida com extraordinário humor, um tanto negro, é verdade, na criatividade do coleguinha aí da foto, que não deixa de ser um churrasqueiro. Um tanto barrigudo, talvez. Como eu.

O churrasquinho é encontrado em cada esquina das grandes cidades do país, este imenso paraíso da informalidade e desemprego. É um meio de vida. Porém, o que nos importa, já que tratamos de churrascos, são os aspectos gastronômicos-existenciais desse acecipe tão popular. Poderíamos afirmar, dentro dessa entranha ordem de idéias, típicas de quem não o que fazer, que o churrasquinho de rua tem a alma parecida com a das lingüiças e salsichas: ninguém sabe ao certo do quê e como são feitos, mas são gostosas.

Justamente por causa dessa dúvida atroz, não faltaram gaiatos correlacionando o desaparecimento repentino de gatos, vadios ou não, com o surgimento de barraquinhas de churrasquinhos. Uma mega-mentira, por óbvio, mas tão verossímil que resultou no bem-humorado apelido de “churrasco de gato”.

Ainda que você seja daqueles que encontram fundo de verdade em certas mentiras ou lendas ou gaiatices; ainda que alguém, em algum lugar, realmente tenha, meu Deus, estripado gatinhos para fazer churrasquinhos, o que não me parece de todo impossível, até porque a rima, inoportuna, é perfeita; e, por último, ainda que você tenha estômago para comidas esquisitas, não alimente ilusões: na “maioria" da vezes nosso churrasquinho é honestíssimo. O de gato, meeeeesmo, hipótese que me repugna, talvez só por “encomenda”. Não me peça indicações, por favor.

A propósito: você comeria o churrasquinho do criativo Ceará?

8 comentários:

Anônimo disse...

Caro Ricardo, o pior é que o cheiro do tal churrasquinho de gato é de matar de vontade, não???? Fico com água na boca, mas com medo de comer...acho que a tal da lenda fica martelando na minha cabeça... sei que não é de gato, mas fico pensando como foi cortada a carne, a sujeira do lugar, enfim...que eca!
Mas o cheiro é bom mesmo! Sabe que talvez eu experimentasse o tal do churrasco do Ceará só para saber o gosto do Gato Sianês criado com ração...
Rsrsrs...
Um abraço grande!

www.mangiachetefabene.wordpress.com

Fer Guimaraes Rosa disse...

eu peço encarecidamente a deus que isso seja so uma piada -- bem negresca por sinal! eu nao comeria. nunca comi. meus pais moram mais ou menos perto do estadio do Guarani de Campinas e nos aureos tempos, qdo o time era time e tinha jogo, meu pai falava brincando -esconde o Santai e a Liloca [os gatos]! :-))

beijaoo,

Ricardo disse...

Verena,
Morremos, todos, invariavelmente pela boca, diz o ditado. Mas o cheiro é que nos leva ás mais irracionais das reações: comer um churrasquinho de rua. Nosso único termômetro é visual: se tiver cara de "limpinho" e a aparência não afastar o nojo, nóis traça!
Contece, porém, que vamos a certos restaurantes finérrimos (ou finézimos?, imitar bicha é mais complicado que "ser" bicha, creio eu), sem saber ao certo o que acontece na danada da cozinha. Sei de cada história de arrepiar até as unhas. Daí um bom churrasquinho de "filé-miau", não mata ninguém, desde que...
Abraços.

Ricardo disse...

Fezoca,
Peço dez bilhões de desculpaz por ter suscitado em sua alma, na forma de torurantes pensamentos, a remota hipótese de Santai e Liloca - seus doces gatinhos de época infante ou adolescente, serem ou terem sido objeto de hipótese tão torpe como a de transformar inocentes felinos em filé-miau.
Encarecidamente: não me faça rir tanto!
Abraços,

Ricardo

Agdah disse...

Menino, no Carnaval, o que não falta em "Salvadô" é churrasquinho de gato. Apesar do cheiro inebriante, sempre tive cisma em comer na rua e nunca arrisquei. Hoje em dia, com tantas outras opções de bons churrascos, acho mais difícil ainda.

Ricardo disse...

Agdah,
Nem tudo a Deus nem tudo ao Diabo. Aqui no Rio conheço vários churrasqueiros de rua "Impecáveis". Um deles trabalha no Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel. Além da organização e beleza visual da sua baraquinha e churrasqueira, a limpeza e o esmero no preparo são visíveis. O cara dá um show e vende muito.

Anônimo disse...

Quando Fernando Pessoa escreveu isso?

Ricardo disse...

Nuca, na verdade. Porém, brincar com certas licençaas poéticas não faz mal a ninguém.